literatura, seja ela categorizada como clássica, canonizada, regional ou contemporânea, diz respeito ao profundo mergulho que o artífice da palavra é capaz de fazer ao mesclá-la entre os efeitos reais e ficcionais.
Em suas respectivas épocas de produção, a literatura sempre foi considerada uma ferramenta de relevante importância social, inclusive para os efeitos de humanização apontados por Antonio Candido.
Ítalo Calvino, em Por que ler os clássicos, propõe a provocação de que os livros clássicos são aqueles que não se encerram na primeira leitura. Nisso, o enfoque à releitura corresponde à percepção dos sentidos a serem descortinados pelo efeito espiralar de sua atemporalidade.
Um mergulho no holofote de sua regionalidade de criação revela que a literatura brasileira mescla sua importância entre as obras consideradas clássicas — nas quais se incluem Dom Casmurro, de Machado de Assis; Vidas Secas, de Graciliano Ramos; A hora da estrela, de Clarice Lispector; Reinações de Narizinho, de Monteiro Lobato (apenas para citar algumas) — com aquelas que estão avançando além de suas margens temporais. Nesse enfoque, este artigo debruça sua reflexão sobre escritores que vêm despontando com sua arte estética sob o efeito de pertencimento ao mais novo estado brasileiro, o Tocantins.
Em geral, os escritores tocantinenses são representados por aqueles que vieram para o estado a partir de seu efetivo funcionamento, no ano de 1989. Os cidadãos que nasceram em alguns dos municípios tocantinenses e que passaram a lidar com a estética da palavra também são denominados escritores tocantinenses.
A escritora Rhoselly Xavier, representante do município de Miranorte, desponta no campo literário com a obra Travessuras e magia no cerrado encantado. Imbricada em um mergulho que apresenta lições às crianças, trata-se de uma obra que discute o papel feminino como espaço de resistência. Apesar de não reconhecida como um “clássico”, a obra provoca no leitor o sentido da releitura, tão acentuado quanto os dizeres de Calvino.
Dourival Santiago, representante do município de Paraíso do Tocantins, lançou ao universo literário a obra O mundo não vale minha mãe. O prisma da obra está centrado na mensagem atemporal sobre a importância da mãe na vida dos filhos — e destes na vida dela — além da percepção sobre o otimismo como ferramenta de superação e conquistas, principalmente as sociais.
No eixo central do Tocantins, o município de Palmas revela sua essência literária com a força estética da escritora Gislene Camargos. As obras Amor em quarenta; Novas mares, outras caravelas; Dançando com a Menô; Esperas e nêsperas; Em versos o amor; e Rejunto formam a base estética disponível ao leitor. Em Rejunto, a mensagem clássica reside na perspectiva de uma incessante luta para juntar o que estava perdido, como apreço à descoberta da singularidade do sentido invisível, mas realizável.
A região norte tocantinense descortina sua força literária com a produção do escritor Leomar Alves de Sousa. Representante do município de Araguaína, suas obras De dizer a vida; 80 poemas de vida; e Vidas além racismo despontam como produções que revelam a essência do lugar acima de sua singularidade existencial e social. Sob o formato de poemas, elas tocam em temáticas também atemporais.
Os quatro autores tocantinenses citados neste artigo são tomados como inspiração para o reconhecimento de uma produção literária em ampla expansão. Afinal, segundo provoca Roland Barthes, as obras são valorizadas quando o leitor ocupa os espaços de sua funcionalidade.
À guisa conclusiva, a divulgação das obras literárias no site www.literaturatocantinense.com.br representa o alicerce para a resposta reflexiva sobre as motivações que justificam o porquê de se ler os escritores tocantinenses.
Rubens Martins da Silva é professor universitário, coordenador do grupo de pesquisa GEPLIT/CNPq/Unitins, pesquisador da literatura tocantinense e administrador do site www.literaturatocantinense.com.br.
