Fermino Neto
Foto: Divulgação

Sabe aquele momento na vida em que a pessoa é a pessoa errada, no lugar errado, tomando decisão errada? Mas desejando que tudo dê certo?

Já viu coisa parecida? Já, não é?

Talvez eles sejam mais frequentes e mais previsíveis do que se imagina. Motoristas ainda saem dirigindo embriagados em alta velocidade, muitos ainda abusam da sorte transando sem preservativo e acabam gerando filhos sem planejamento ou adquirindo DST/AIDS, hepatite tipo B e assim vai. Por ai vai...

É o tal 5 minutos de bobeira que se diz, que, cientificamente, chama-se lapso, ato falho, visão reduzida, má intenção.

Só que no passo seguinte poucos voltam para pagar o preço por ter sido a pessoa errada, na hora errada, fazendo escolha errada, desejando que tudo desse certo.

Isso vai levando embora os valores humanos, que preservam a ordem social e garantem o direito à vida, começando pela estruturação racional, afetiva e moral da família.

O que fazer com a desvalorização da vida? Com toda essa desmontagem dos valores motivados por escolhas erradas, por pessoas erradas em momentos errados?

As últimas gerações cresceram o olho para o senso de prazer e de direitos, mas perderam a dimensão do dever, da responsabilidade com vistas a enxergar a necessidade do outro; mesmo quando o outro é um incapaz, um portador de necessidades especiais, injustiçado ou fragilizado pelo destino.  

Sem juízo de valor ainda, estamos presenciando uma completa desvalorização do ser humano como humano, como pessoa criatura imagem e semelhança do Criador.

Na noite do domingo 28 de julho de 2019, no mesmo horário do Programa Fantástico da Rede Globo, que tratava de violência doméstica e crime contra incapazes, um casal em Araguaína, norte do Tocantins, era denunciado por vizinhos que ouviram o choro das crianças e chamaram o Conselho Tutelar; ele e ela acabaram detidos pela Polícia Militar.

Cinco minutos de bobeira na tv e na vida deram origem a terríveis crimes de violência familiar e agressões até seguidas de morte de crianças como a menina paulista Isabela Nardoni, em alguns crimes envolvendo homem e mulher juntos.

A polícia declarou à imprensa que as crianças ficaram em casa trancadas sozinhas enquanto os pais foram ao balneário viver o encanto das férias de julho.

Provavelmente não são pessoas ruins nem tinham intenções de errar, mas foram os pais errados, num momento errado, em que buscaram beber e se divertir como se talvez os filhos não ajudassem muito indo junto.

A PM informa que a criança mais nova tem apenas um ano de idade. Imagine.

Eles teriam deixado 5 crianças sozinhas em casa, na tarde daquele domingo por cerca de duas horas: 4 filhos da mulher com 1, 2, 5 e 7 anos de idade. E um sobrinho do homem, de 9 anos.

 Foram 40 minutos de espera, até que mãe chegou ao local acompanhada do namorado. E eles, embriagados, abriram a casa quando os militares verificaram o ocorrido.

Resultado: “O casal foi levado para a delegacia e as crianças encaminhadas pela conselheira tutelar para um abrigo na cidade. Todos podem ler o desfecho do caso nesse link do Araguaína Notícias.

Dizem que todo ser humano tem direito a 5 minutos de bobeira na vida, mas nunca está livre das consequências. Por isso, também dizem que estes 5 minutos estão distribuídos para toda a vida, em frações de milissegundos, os quais você gasta só um tiquinho de cada vez durante 100 anos.

Tanto é crime o abandono de incapaz que está previsto no Código Penal brasileiro, em seu capítulo dos crimes de periclitação da vida e da saúde: Abandonar pessoa que está sob seu cuidado, guarda, vigilância ou autoridade, e por qualquer motivo incapaz de defender-se dos riscos resultantes do abandono.

Cenas assim de desamor e violência domestica vem sendo cada vez mais frequentes e constantes com o advento prematuro de formações de famílias desestruturadas e sem planejamento oriundos do sexo irresponsável e do hedonismo.

Disso, em geral, nascem os pais negligentes que sobrecarregam suas famílias e a sociedade. 

Como pode melhorar isso?

No dicionário, negligência quer dizer desleixo, descuido, desatenção, menosprezo, preguiça, indolência. Mas nem o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) nem o Código Penal tipificam a negligência familiar. E Freud nasceu e morreu tentando explicar a loucura humana quando pensa só para si.

Segundo especialistas, a negligência pode ser entendida como uma situação de constante omissão para com a criança ou adolescente que coloque em risco seu desenvolvimento.

No campo da Psicanalise entendemos tudo isso como desinteresse pela vida.

Um certo caminho aberto para se banalizar o respeito e a responsabilidade com o semelhante, seja ele do mesmo sangue ou não. Por ai vai indo embora até o sentimento materno, o respeito paterno e a estrutura emocional da família como célula da sociedade.

O bom senso, a estabilidade emocional, o amor, estão dando adeus e nós todos, aos poucos, vamos indo no vácuo, pois o sentido da vida é enxergar o nosso próprio sentido em viver.