
A campanha Setembro Amarelo, realizada desde 2013 pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) em parceria com o Conselho Federal de Medicina (CFM), chega em 2024 com o lema “Se precisar, peça ajuda!”. A iniciativa, inspirada pelo Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio (10 de setembro), convida à reflexão sobre a importância do acolhimento contínuo e da quebra do silêncio em torno da saúde mental.
Os números da urgência
Os dados epidemiológicos no Brasil evidenciam uma situação grave e em piora, especialmente entre os mais jovens:
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O país registra uma média de 14 mil suicídios por ano, o que equivale a aproximadamente 38 mortes por dia.
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Entre jovens de 15 a 29 anos, o suicídio figura como a terceira ou quarta causa de morte.
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O crescimento entre adolescentes é alarmante: entre 2016 e 2021, a mortalidade por suicídio cresceu 49,3% na faixa de 15 a 19 anos (atingindo 6,6 casos por 100 mil habitantes) e 45% entre crianças e adolescentes de 10 a 14 anos (chegando a 1,33 por 100 mil).
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Dados da Sociedade Brasileira de Pediatria indicam que cerca de mil crianças e adolescentes de 10 a 19 anos tiram a própria vida anualmente no Brasil.
A conexão com a violência doméstica
A campanha também chama a atenção para a forte correlação entre violência doméstica e ideação suicida. O ciclo de violência, que alterna tensão, agressão e fases de "lua de mel", provoca nas vítimas sentimentos de impotência, culpa, baixa autoestima, ansiedade, desamparo e desesperança.
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Mulheres vítimas de violência doméstica têm um risco de mortalidade até oito vezes maior que a média da população.
- No Brasil, 35% das mulheres já sofreram violência física ou sexual por parceiros íntimos ou outras pessoas ao longo da vida.
“Em contextos de violência, a percepção de que não há saída é tão forte que a própria vida se torna sinônimo de dor. O que essas mulheres querem é parar de sofrer e não acabar com a vida. Mas, não vendo outra solução, morrer parece ser a única forma de parar de sofrer”, afirma a psicóloga clínica Luanna Debs. “Quebrar o silêncio é o primeiro passo para encontrar um novo sentido – e pedir ajuda não é fraqueza, é resistência”.
A importância de falar e agir
A campanha reforça que o sofrimento psíquico é frequentemente invisível; uma pessoa pode aparentar normalidade enquanto carrega pensamentos suicidas. Por isso, ações afirmativas são essenciais, incluindo:
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Treinamentos para profissionais de saúde, educação e serviços sociais.
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Fortalecimento das redes de apoio comunitárias.
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Implementação de políticas públicas efetivas.
Mecanismos de acolhimento e suporte
Existem diversos canais de ajuda e suporte para quem precisa:
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Centro de Valorização da Vida (CVV): Oferece apoio emocional gratuito 24 horas por dia através do telefone 188, além de chat, e-mail e Skype. Realiza mais de 3 milhões de atendimentos anuais com cerca de 3.500 voluntários.
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Política Nacional de Prevenção da Automutilação e do Suicídio: Institui o dever do poder público de oferecer assistência psicossocial adequada.
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ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar): Recomenda ações integradas na atenção primária e em ambientes de trabalho e estudo, promovendo espaços de diálogo e bem-estar mental.
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SUS: Atua por meio dos CAPS (Centros de Atenção Psicossocial) e de estratégias como o IdeiaSUS, promovendo experiências exitosas de prevenção com ênfase em jovens e adolescentes.
Um compromisso que vai além de setembro
O Setembro Amarelo funciona como um alerta, mas especialistas e organizadores enfatizam que o combate à crise de saúde mental deve ser um compromisso diário e contínuo. Como ressaltou José Hiran Gallo, presidente do CFM, “ouvir sem preconceito e acolher com empatia pode transformar vidas – não apenas em setembro, mas ao longo dos 365 dias do ano”.
A campanha segue como um convite à sociedade para que se engaje ativamente na prevenção, oferecendo escuta qualificada e promovendo um ambiente onde pedir ajuda seja não apenas normalizado, mas incentivado.