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Estresse: o que é e como lidar com ele?

Estresse: o maior mal-estar permanente na contemporaneidade

Estresse está na base de muitos outros mal-estares, tais como a síndrome do pânico e da fadiga crônica.
Foto: Ilustrativa

A palavra estresse já faz parte do nosso vocabulário do dia a dia nos mais variados espaços e momentos da vida. Quem nunca, por exemplo, chegou para um amigo ou colega de trabalho e, como quem dá um bom dia, exclamou um: nossa, hoje meu estresse está nas alturas! O adjetivo estressado, na verdade, é um daqueles qualificativos que usamos para rotular alguém, ou a nós mesmos, quando parece estar ligado na tomada, como canta Paula Fernandes na sua música quero sim.

De fato, como escreve o psiquiatra e psicanalista brasileiro Joel Birman, no seu livro O sujeito na contemporaneidade, estamos todos, em um estado de estresse permanente. Este é o fundo sempre presente nas narrativas sobre o mal-estar e permanentemente reiterado nos discursos sobre o tema. Os diversos discursos médicos falam disso sem parar, como um estribilho que se repete ao infinito. Em última instância, o estresse é designado como o maior mal-estar permanente na contemporaneidade, que pode se manifestar de múltiplas e infinitas maneiras (BIRMAN, 204, p. 70).

O estresse, como ainda argumenta Birman, está na base de muitos outros mal-estares, tais como a síndrome do pânico e da fadiga crônica. Embora todos nós saibamos intuitivamente o que é o estresse, neste artigo vamos responder, a partir da Psicanálise Lacaniana, exatamente essa pergunta e mais outra: o que é e como lidar com o estresse.

O que é o estresse?

Em artigo anterior (A ansiedade e sua relação com o perigo), partindo do texto de Sigmund Freud, Além do princípio do prazer, de 1920, argumentamos que tanto no estado de ansiedade quanto no de medo, há uma expectativa de perigo e, consequentemente, de preparação para ele, quer dizer, a pessoa tem uma sensação de que algo ruim vai acontecer e, por isso, buscando se precaver, se coloca em estado de alerta.

Essa posição de alerta do corpo, ou o estresse, é uma defesa do organismo à situação de perigo pressentida, resultado da ação dos hormônios adrenégicos produzidos pelas glândulas suprerrenais. Isso indica a sabedoria do corpo para garantir a sua integridade e, também, que o estresse, assim como o medo e a ansiedade, não são, em si e por si mesmos, ruins, porém, quando se transformam em estados persistentes ou crônicos, os efeitos podem chegar a ser devastadores. Jorge Forbes, psiquiatra e psicanalista brasileiro, descreve os efeitos do estresse no corpo nas seguintes palavras:

no corpo, o sono falha, a azia queima, os músculos doem, a pressão aumenta, o coração dispara, a memória esquece. Na relação com o outro vem a impaciência, a irritação agressiva, a briga, o desgaste, o afastamento, a solidão. Cada um desses fatores retroage sobre a pessoa aumentando o estresse, abrindo caminho para a depressão (FORBES, 2021, s/p).

Para exemplificar, pensamos no motor de um automóvel. É importante que ele seja capaz de colocar o veículo em movimento e o leve a atingir diferentes velocidades, a depender das circunstâncias. A ultrapassagem de um comboio de caminhões em um rodovia requer que o motor alcance sua potência máxima em um curto período de tempo. No entanto, o que lhe aconteceria se ele ficasse ligado o tempo todo? Em algum momento, provavelmente, fundiria. Isso ilustra o que pode acontecer a alguém em vivência de estresse permanente, como se tivesse sempre ligado na tomada, para retomar a música de Paula Fernandes.

Como lidar com o estresse?

Como se pode inferir, estresse, medo e ansiedade não são para ser eliminados, mas sim para ser administrados. O pulo do gato é fazer o estresse jogar a seu favor e não contra, e é isso o que uma Psicanálise pode oferecer a quem procura um tratamento psicanalítico. Sigmund Freud, em um texto de 1905, conhecido como O caso Dora, tem uma frase interessante, que diz: “quem silencia com os lábios, fala com a ponta dos dedos; delata-se por todos os poros”, ou seja, aquilo do qual não se fala, manifesta-se no corpo, e o estresse é algo que se vive de forma maciça no corpo.

Quando uma pessoa tem a oportunidade de colocar em palavras os perigos que a assedia, percebe que o corpo fica mais leve, disponível e flexível para outras tarefas mais condizentes com seus objetivos de vida. Falar de maneira honesta para quem de fato suporta ouvir, penso que essa é uma boa saída para se lidar com o estresse nosso de cada dia.

Autor

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*Dr. Francisco Neto Pereira Pinto 

  Psicanalista, escritor, membro da Acalanto, e professor no PPGDire/UFNT e no Unitpac. E-mail: fneto@uft.edu.br